quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Carta Aberta de Marina Silva

Prezada Dilma Roussef,
Prezado José Serra,

Agradeço, inicialmente, a deferência com que ambos me honraram ao manifestar interesse em minha colaboração e a atenção que dispensaram às propostas e ideias contidas na “Agenda para um Brasil Justo e Sustentável” que nós, do Partido Verde, lhes enviamos neste segundo turno das eleições presidenciais de 2010.

Embora seus comentários à Agenda mostrem afinidades importantes com nosso programa, gostaríamos que avançassem em clareza e aprofundamento no que diz respeito aos compromissos. Na verdade, entendemos que somos o veículo para um diálogo de ambos com os eleitores a respeito desses temas. Nesse sentido, mantemo-nos na posição de mediadores, dispostos a continuar colaborando para que esse processo alcance os melhores resultados.

Aos contatos que tivemos e aos documentos que compartilhamos, acrescento esta reflexão, que traz a mesma intenção inicial de minha candidatura: debater o futuro do Brasil.

Quero afirmar que o fato de não ter optado por um alinhamento neste momento não significa neutralidade em relação aos rumos da campanha. Creio mesmo que uma posição de independência, reafirmando ideias e propostas, é a melhor forma de contribuir com o povo brasileiro.

Já disse algumas vezes que me sinto muito feliz por, aos 52 anos, estar na posição de mantenedora de utopias, como os brasileiros que inspiraram minha juventude com valores políticos, humanos, sociais e espirituais. Hoje vejo que utopias não são o horizonte do impossível, mas o impulso que nos dá rumo, a visão que temos, no presente, do que será real e terreno conquistado no futuro.

É com esse compromisso da maturidade pessoal e política e com a tranquilidade dada pelo apreço e respeito que tenho por ambos que ouso lhes dirigir estas palavras.

Quando olhamos retrospectivamente a história republicana do Brasil, vemos que ela é marcada pelo signo da dualidade, expressa sempre pela redução da disputa política ao confronto de duas forças determinadas a tornar hegemônico e excludente o poder de Estado. Republicanos X monarquistas, UDN X PSD, MDB X Arena e, agora, PT X PSDB.

Há que se perguntar por que PT e PSDB estão nessa lista. É uma ironia da História: dois partidos nascidos para afirmar a diversidade da sociedade brasileira, para quebrar a dualidade existente à época de suas formações, se deixaram capturar pela lógica do embate entre si até as últimas consequências.

Ambos, ao rejeitarem o mosaico indistinto representado pelo guarda-chuva do MDB, enriqueceram o universo político brasileiro criando alternativas democráticas fortes e referendadas por belas histórias pessoais e coletivas de lutas políticas e de ética pública.

Agora, o mergulho desses partidos no pragmatismo da antiga lógica empobrece o horizonte da inadiável mudança política que o país reclama. A agressividade de seu confronto pelo poder sufoca a construção de uma cultura política de paz e o debate de projetos capazes de reconhecer e absorver com naturalidade as diferentes visões, conquistas e contribuições dos diferentes segmentos da sociedade, em nome do bem-comum.

A permanência dessa dualidade destrutiva é característica de um sistema politico que não percebe a gravidade de seu descolamento da sociedade. E que, imerso no seu atraso, não consegue dialogar com novos temas, novas preocupações, novas soluções, novos desafios, novas demandas, especialmente por participação política.

Paradoxalmente, PT e PSDB, duas forças que nasceram inovadoras e ainda guardam a marca de origem na qualidade de seus quadros, são hoje os fiadores desse conservadorismo renitente que coloniza a política e sacrifica qualquer utopia em nome do pragmatismo sem limites.

Esse pragmatismo, que cada um usa como arma, é também a armadilha em que ambos caem e para a qual levam o país. Arma-se o eterno embate das realizações factuais, da guerra de números e estatísticas, da reivindicação exclusivista de autoria quase sempre sustentada em interpretações reducionistas da história.

Na armadilha, prende-se a sociedade brasileira, constrangida a ser apenas torcida quando deveria ser protagonista, a optar por pacotes políticos prontos que pregam a mútua aniquilação.

Entendo, porém, que o primeiro turno de 2010 trouxe uma reação clara a esse estado de coisas, um sinal de seu esgotamento. A votação expressiva no projeto representado por minha candidatura e de Guilherme Leal sinaliza, sem dúvida, o desejo de um fazer político diferente.

Se soubermos aproveitá-la com humildade e sabedoria, a realização do segundo turno, tendo havido um terceiro concorrente com quase 20 milhões de votos, pode contribuir decisivamente para quebrar a dualidade histórica que tanto tem limitado os avanços políticos em nosso país.

Esta etapa eleitoral cria uma oportunidade de inflexão para todos, inclusive ou principalmente para vocês que estão diante da chance de, na Presidência da República, liderar o verdadeiro nascimento republicano do Brasil.

Durante o primeiro turno, quando me perguntavam sobre como iria compor o governo e ter sustentação no Congresso Nacional, sempre dizia que, em bases programáticas, iria governar com os melhores de cada partido. Peço que vejam na votação concedida à candidatura do PV algo que ultrapassa meu nome e que não se deixem levar por análises ligeiras.

Esses votos não são uma soma indistinta de pendores setoriais. Eles configuram, no seu conjunto, um recado político relevante. Entendo-os como expressão de um desejo enraizado no povo brasileiro de sair do enquadramento fatalista que lhe reservaram e escolher outros valores e outros conteúdos para o desenvolvimento nacional.

E quem tentou desqualificar principalmente o voto evangélico que me foi dado, não entendeu que aqueles com quem compartilho os valores da fé cristã evangélica, vão além da identidade espiritual. Sabem que votaram numa proposta fundada na diversidade, com valores capazes de respeitar os diferentes credos, quem crê e quem não crê. E perceberam que procurei respeitar a fé que professo, sem fazer dela uma arma eleitoral.

Os exemplos de cristãos como Martin Luther King e Nelson Mandela e do hindu Mahatma Ghandi mostram que é possível fazer política universal com base em valores religiosos. São inspiração para o mundo. Não há porque discriminar ou estigmatizar convicções religiosas ou a ausência delas quando, mesmo diferentes, nos encontramos na vontade comum de enfrentar as distorções que pervertem o espaço da política. Entre elas, a apropriação material e imaterial indevida daquilo que é público, seja por meio de corrupção ou do apego ao poder e a privilégios; a má utilização de recursos e de instrumentos do Estado; e o boicote ao novo.

Assim, ao contrário de leituras reducionistas, o apoio que recebi dos mais diversos setores da sociedade revela uma diferença fundamental entre optar e escolher. Na opção entre duas coisas pré-colocadas e excludentes, o cidadão vota “contra” um lado, antes mesmo de ser a favor de outro. Na escolha, dá-se o contrário: o voto se constrói na história, na ampliação da cidadania, na geração de novas alternativas em uma sociedade cada vez mais complexa.

A escolha, agora, estende-se a vocês. É a atitude de vocês, mais que o resultado das urnas, que pode demarcar uma evolução na prática política no Brasil. Podemos permanecer no espaço sombrio da disputa do poder pelo poder ou abrir caminho para a política sustentável que será imprescindível para encarar o grande desafio deste século, que é global e nacional.

Não há mais como se esconder, fechar os olhos ou dar respostas tímidas, insuficientes ou isoladas às crises que convergem para a necessidade de adaptar o mundo à realidade inexorável ditada pelas mudanças climáticas. Não estamos apenas diante de fenômenos da natureza.

O mega fenômeno com o qual temos que lidar é o do encontro da humanidade com os limites de seus modelos de vida e com o grande desafio de mudar. De recriar sua presença no planeta não só por meio de novas tecnologias e medidas operacionais de sobrevivência, mas por um salto civilizatório, de valores.

Não se trata apenas de ter políticas ambientais corretas ou a incentivar os cidadãos a reverem seus hábitos de consumo. É necessária nova mentalidade, novo conceito de desenvolvimento, parâmetros de qualidade de vida com critérios mais complexos do que apenas o acesso crescente a bens materiais.

O novo milênio que se inicia exige mais solidariedade, justiça dentro de cada sociedade e entre os países, menos desperdício e menos egoísmo. Exige novas formas de explorar os recursos naturais, sem esgotá-los ou poluí-los. Exige revisão de padrões de produção e um fortíssimo investimento em tecnologia, ciência e educação.

É esse, em síntese, o sentido do que chamamos de Desenvolvimento Sustentável e que muitos, por desconhecimento ou má-fé, insistem em classificar como mera tentativa de agregar mais alguns cuidados ambientais ao mesmo paradigma vigente, predador de gente e natureza.

É esse mesmo Desenvolvimento Sustentável que não existirá se não estiver na cabeça e no coração dos dirigentes políticos, para que possa se expressar no eixo constitutivo da força vital de governo. Que para ganhar corpo e escala precisa estar entranhado em coragem e determinação de estadista. Que será apenas discurso contraditório se reduzido a ações fragmentadas logo anuladas por outras insustentáveis, emanadas do mesmo governo.

E, finalmente, é esse o Desenvolvimento Sustentável cujos objetivos não se sustentarão se não estiver alicerçado na superação da inaceitável, desumana e antiética desigualdade social. Esta é ainda a marca mais resistente da história brasileira em todos os tempos, em que pesem os inegáveis avanços econômicos dos últimos 16 anos, que nos levaram à estabilidade econômica, e das recentes conquistas sociais que tiraram da linha da pobreza mais de 24 milhões de pessoas e elevaram à classe média cerca de 30 milhões de pessoas.

A sociedade, em sua sábia intuição, está entendendo cada vez mais a dimensão da mudança e o compromisso generoso que ela implica, com o país, com a humanidade e com a vida no Planeta. Os votos que me foram dados podem não refletir essa consciência como formulação conceitual, mas estou certa de que refletem o sentimento de superação de um modelo. E revelam também a convicção de que o grande nó está na política porque é nela que se decide a vida coletiva, se traçam os horizontes, se consolidam valores ou a falta deles.

Essa perspectiva não foi inventada por uma campanha presidencial. Os votos que a consagram estão sendo gestados ao longo dos últimos 30 anos no Brasil, desde que a luta pela reconquista da democracia juntou-se à defesa do meio ambiente e da qualidade de vida nas cidades, no campo e na floresta.

Parte importante da nossa população atualizou seus desafios, desejos e perspectivas no século 21. Mas ainda tem que empreender um esforço enorme e muitas vezes desanimador para ser ouvida por um sistema político arcaico, eleitoreiro, baseado em acordos de cúpula, castrador da energia social que é tão vital para o país quanto todas as energias de que precisamos para o nosso desenvolvimento material.

Estou certa de que estamos no momento ao qual se aplica a frase atribuída a Victor Hugo: “Nada é mais forte do que uma idéia cujo tempo chegou”.

O segundo turno é uma nova chance para todos. Para candidatos e coligações comprometerem-se com propostas e programas que possam sair das urnas legitimados por um vigoroso pacto social entre eleitos e eleitores. Para os cidadãos, que podem pensar mais uma vez e tornar seu voto a expressão de uma exigência maior, de que a manutenção de conquistas alie-se à correção de erros e ao preparo para os novos desafios.

Mesmo sem concorrer, estamos no segundo turno com nosso programa, que reflete as questões aqui colocadas. Esta é a nossa contribuição para que o processo eleitoral transcenda os velhos costumes e acene para a sustentabilidade política que almejamos.

Como disse, ousei trazer a vocês essas reflexões, mas não como formalidade ou encenação política nesta hora tão especial na vida do pais. Foi porque acredito que há terreno fértil para levarmos adiante este diálogo. Sei disso pela relação que mantive com ambos ao longo de nossa trajetória política.

De José Serra guardo a experiência de ter contado com sua solidariedade quando, no Senado, precisei de apoio para aprovar uma inédita linha de crédito para os extrativistas da Amazônia e para criar subsídio para a borracha nativa. Serra dispôs-se a ele mesmo defender em plenário a proposta porque havia o risco de ser rejeitada, caso eu a defendesse.

Com Dilma Roussef, tenho mais de cinco anos de convivência no governo do presidente Lula. E, para além das diferenças que marcaram nossa convivência no governo, essas diferenças não impediram de sua parte uma atitude respeitosa e disposição para a parceria, como aconteceu na elaboração do novo modelo do setor elétrico, na questão do licenciamento ambiental para petróleo e gás e em outras ações conjuntas.

Estou me dirigindo a duas pessoas dignas, com origem no que há de melhor na história política do país, desde a generosidade e desprendimento da luta contra a ditadura na juventude, até a efetividade dos governos de que participaram e participam para levar o país a avanços importantes nas duas últimas décadas.

Por isso me atrevo, seja quem for a assumir a Presidência da República, a chamá-los a liderar o país para além de suas razões pessoais e projetos partidários, trocando o embate por um debate fraterno em nome do Brasil. Sem esconder as divergências, vocês podem transformá-las no conteúdo do diálogo, ao compartilhar idéias e propostas, instaurando na prática uma nova cultura política.

Peço-lhes que reconheçam o dano que a política atrasada impõe ao país e o risco que traz de retrocessos ainda maiores. Principalmente para os avanços econômicos e sociais, que a sociedade brasileira, com justa razão, aprendeu a valorizar e preservar.

Espero que retenham de minha participação na campanha a importância do engajamento dos jovens, adolescentes e crianças, que lhes ofereçam espaço de crescimento e participação. Que acreditem na capacidade dos cidadãos e cidadãs em desejar o novo e mostrar essa vontade por meio do seu voto. Que reconheçam na sociedade brasileira uma sociedade adulta, o que pressupõe que cada eleitor escolha o melhor para si e para o país e o expresse, de forma madura, livre e responsável, sem que seu voto seja considerado propriedade de partidos ou de políticos. Pois, como repeti inúmeras vezes no primeiro turno, o voto não era meu, nem da Dilma, nem do Serra. O voto é e sempre será do eleitor e de sua inalienável liberdade democrática.

Esta é minha contribuição, ao lado das diretrizes de programa de governo que são um retrato do amadurecimento de quase 30 anos de construção do socioambientalistmo no Brasil. Espero que a acolham como ela é dada, com sinceridade. A utopia, mais que sinal de ingenuidade, é mostra de maturidade de um povo cujo olhar eleva-se acima do chão imediato e anseia por líderes capazes de fazer o mesmo.

Que Deus continue guiando nossos caminhos e abençoando nossa rica e generosa nação.

Marina Silva

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ao Sac das Eleições

Bom dia!

Gostaria de, através deste curto texto, poder expor algumas sugestões e reclamações que tenho a fazer ao processo eleitoral. Espero que não entendam esta nota como uma afronta à liberdade de escolha ou como algum ataque a divina democracia da sociedade humana, longe de minha pessoa ter tão absurdos devaneios. Gostaria apenas de humildemente, deixando de lado toda essa retórica emotiva de liberdades e democracias, colocar alguns pingos nos “Is”, se me permitem à expressão.

Escrevo por estar muito angustiado com a falta de capacidade de nossos líderes, então resolvi, por meio deste, tentar salientar a necessidade de algum tipo de avaliação, teste, prova, exame de admissão para com os nossos possíveis líderes (por líderes entendam presidentes, deputados, governadores e senadores), pois o medo me domina ao ligar a TV e ver um comediante semi-analfabeto (ou analfabeto, que seja) fazendo piadas. Não que eu tenha fobia de palhaços ou coisa do tipo, é que o horário em que ligo a TV é o eleitoral gratuito, onde deveria, por obviedade da situação, ser transmitido candidatos com suas propostas de governo. Ao unir na mesma frase “comediantes semi-analfabetos” e “horário eleitoral gratuito”, percebi que algo precisa ser feito, urgentemente. Não dizendo que Tirica (pronto, dei nome aos bois) me abriu os olhos, digamos que ele apenas foi o sopro que estourou meu “saco”.
O “pouco estudado” Lula foi melhor presidente que o “culto” FHC? Talvez sim, talvez não. Mas convenhamos, nenhum candidato a deputado que não saiba quais os deveres de um deputado e quais letras juntar para formas palavras merece se dispor a cargos públicos. Quer defender o povo? Tudo bem, mas não precisamos de alguém que queira, é necessário saber fazê-lo, mesmo que minimamente. E não me venham fazendo campanhas com “honestidade” escrito em bandeiras, honestidade não basta. E como dizia em algum muro de escola rabiscado ilegalmente por aí: Honestidade não é virtude, sim obrigação.

Senhores, acreditam mesmo que um Tirica tem a capacidade de executar seguintes atos?

Retirado de Wikipédia:

Ao Congresso Nacional compete dispor, com a sanção do presidente da República, sobre todas as matérias de competência da União, em especial:
-sistema tributário, arrecadação e distribuição de renda;
-plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento público, operações de crédito, dívida pública e missões de curso forçado;
-fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;
-planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;
-limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União;
-incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembléias Legislativas;
-transferência temporária da sede do Governo Federal;
-concessão de anistia;
-organização administrativa e judiciária do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, dos Territórios e do Distrito Federal;
-criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas;
-criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;
-telecomunicações e radiodifusão;
-matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações;
-moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.
-fixação do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

É de competência exclusiva do Congresso Nacional:
-resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
-autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;
-autorizar o presidente e o vice-presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;
-aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;
-sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
-mudar temporariamente sua sede;
-fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores;
-fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado;
-julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;
-fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
-zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;
-apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;
-escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;
-aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;
-autorizar referendo e convocar plebiscito;
-autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de -riquezas minerais;
-aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pitacos políticos

Comentário deixado no blog do Fernando Rodrigues:


Petistas dizem que a mídia não consegue fazer a cabeça de mais ninguém contra a Dilma. HUNF. A mídia já fez a cabeça destes, mas não contra Dilma. Aliás, quem é Dilma? Votam no que o marketing do PT impôs como "sucessor" de Lula, votam no que o marketing do PT semeou na mídia.

Engraçado como todos acham ótimo o governo de Lula. O que ele fez? Estabilidade? A estabilidade não é seu mérito, vem de FHC e o plano real, plano correto e de longo prazo, não como os de Lula de curto prazo, que aliás evitam os investimentos, pois altos valores que poderiam estar sendo investidos em educação, saúde, infra-estrutura estão indo a gastos fixos (bolsa-familia, fome zero). Bobagem? Leiam então esta carta da FGV e vejam onde está o problema: http://www.fgv.br/mailing/ibre/carta/abril.2010/cibre201004.pdf

Então as bolsas que ajudam os pobres miseráveis são ruins? Sim, são! Com as bolsas qual o sentido de ir a busca de trabalho? Para perdê-las? Os auxílios, em um governo tomado pelo marasmo (vide carta), tornará-se um circulo vicíoso a longo prazo.

E antes que me chamem de Tucano Perdedor Inconformado, fique claro que vou votar em Marina. A quem mais me identifico. Não sou do tipo, desculpe o termo, de idiota que vota em qualquer candidato que o "meu" partido apresente. Antes de ser petistas ou tucanos, têm que se lembrar de que são brasileiros. E não há guerra. Há um debate sobre qual o melhor futuro presidente. Debate este que Dilma, tão defendida, foge sempre que pode.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Submundo dos Partidos

Não sou, nem de longe, um grande entendedor das ciências políticas, mas há algo na república democrática brasileira que, me corrijam se estiver errado, parece estar fora de controle: A distribuição partidária.
O que primeiro me assusta é a quantidade de partidos que podem ser encontrados nessa terra de Vera Cruz, é P que não acaba mais, agora tem um que começa com D também. A segunda coisa é o Oligopólio que existe neste mar de partidos, pelo menos para presidência, só temos duas alternativas: ou é PT ou é PSDB.
Não sei ao certo, nem estou com tempo, nem paciência, para fazer uma pesquisa a fundo. Mas como será que controlam tantos partidos? Será que realmente controlam? E essa divisão de horário político, é igualitária?

A meu ver, seria melhor e mais passível de controle que a divisão de partidos fosse feita apenas entre uns quatro ou cinco partidos e que as doações para candidaturas fossem feitas através de um fundo para candidatos e depois distribuídas igualmente para todos os partidos, assim como os horários políticos nas mídias fossem divididos também igualmente entre eles. Assim, já teríamos algumas coisas a menos a se preocupar.

Descaso com a Política

Um dia, assistindo a um noticiário onde era transmitida uma entrevista com a presidenciável do PV, Marina Silva, fui abordado com a seguinte menção: ô mulherzinha feia, sacanagem, não tem perfil nenhum para ser presidente. Um outro dia, perguntado sobre em quem eu iria votar, respondi Marina Silva, confesso, fiquei furioso ao ser replicado com um “tudo bem, mas vai perder seu voto”.

Esse tipo de coisa me desanima, ninguém se interessa por eleições, ninguém discute sobre propostas, sobre o que pode mudar no Brasil, a maioria está mais ocupada em falar dos pecados da vida alheia, ficam presos dentro de seu mundinho de pequenas coisas, de poucos objetivos e de muita coisa para fazer. O máximo que sabem da política, é o básico, a cartilha de todo brasileiro, que reza que todos os políticos são corruptos. E nesse contexto vamos eleger mais um Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual.

Assim é dificil!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pixar. Genial!

Como cinema hoje em dia é uma coisa cara, não?! 18,00 reais a inteira em plena quinta-feira, meu pai dizia que em seus tempos (muito tempo atrás) pagava-se cinema com troco de pinga. Bom, mas é a vida, as coisas mudam, algumas pioram, outras melhoram... Mas algumas persistem em continuar do jeito que sempre foram. Como é o caso dos filmes da Pixar, sempre do mesmo jeito, sempre ótimos!
Paguei estes 18,00 reais há algumas quintas-feiras, mas que fique claro que não foi por qualquer filme (vide Crepúsculo e derivados), fora por Toy Story 3, mais um primor da Pixar ao qual rasgarei elogios abaixo!



Começando do começo...
É difícil lembrar de Pixar e não lembrar de seus ‘curtas’ precedentes ao filme, geralmente hilários e sempre com uma mensagem interessante (nunca me esqueço do velhinho que joga xadrez consigo mesmo). Em Toy Story, a animação inicial é “Dia e Noite”, que mostra de um modo diferente que o diferente pode ser igual. Sublime!

É ai que está à graça!
Mas Toy Story não é um filme infantil? Pode ser. Não há mal algum em levar uma criança para assistir o filme, mas não acho que foi feito essencialmente para elas. Essa sociedade dos brinquedos que tem tudo para ser emblemática às crianças na verdade é o que mais chama a atenção de adultos, pois os brinquedos não vivem nas fantasias imaginadas pelas crianças, na brincadeira eles apenas atuam, na vida real (real no filme) vivem em um mundo cheio de problemas de gente grande. O humor também é adulto: O paradoxo do vilão Pelúcia, a feminilidade de Ken e a ginga espanhola de Buzz são exemplos de piadas que não são tão facilmente digeridas por crianças, mas que fazem chorar de rir qualquer brucutu!

Simples assim...
Apesar da simplicidade, o roteiro do filme é ótimo, bem lapidado e rico em detalhes, faz rir e chorar muito mais que a grande maioria dos “live actions” do mercado. Vale lembrar que esse estilo de roteiro, simples e exuberante, é marca registrada dos filmes do estúdio, vai desde o primeiro (1995) até o último (2010) Toy Story. Recomendo todos os filmes do intervalo.

Mãos Abençoadas...
O que alguns não sabem é que quem começou com isso tudo foi, nada mais, nada menos, que Steve Paul Jobs. Isso mesmo, o pai da Apple foi também o padrasto da Pixar, comprou-a ainda jovem e sem grandes feitos da Lucasfilm e transformou-a em uma grande máquina de entretenimento, depois vendeu a Disney tornando se o maior acionista individual da empresa. Não sei a participação que o cara teve nos filmes, mas que ele tem estrela, tem!

Medo do sucesso.
O que sempre me deu a entender, é que os filmes da Pixar são bons pelo fato de serem feitos com cuidado, imaginação e liberdade, não se parecem com os filmes caça-níqueis de hoje em dia, são criados para serem bons e não lucrativos. É sabido que o segundo adjetivo pode muito bem originar-se do primeiro, mas como acionistas querem retorno rápido, por que não fazer o Toy Story 4, o 5 e o 6? Todos conhecem a marca, façam qualquer coisa que o povo vai assistir! Vamos ganhar dinheiro!

Toy Story 3 ainda está no cinema, se ainda não foram assistir, corram!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Patrimônio Invisível

Recentemente fiz uma pesquisa sobre a contabilização dos Ativos Intangíveis, sabe, o patrimônio da empresa não contido em bens matérias. Material interessante, vai desde know-how e processos, até marcas e capital de clientes, passando também pelo precioso capital humano. Mas engana-se quem pensa ser simples colocar em papel o valor deste material e fazer o controle das idéias.


Mas e aí? Quanto vale?
Quanto vale sua marca? Seu processo de produção? Seu banco de dados? Difícil saber ao certo, não se costuma comprar intangíveis no mercado, é um processo bem mais elaborado, e por ser assim, tão complexo, muitas pessoas cometem o equívoco de desconsiderar este valor na hora de mensurar algo. Ledo Engano.
Hoje, encontramo-nos na Era do Conhecimento, - Alguns estudiosos costumam fazer uma linha do tempo para a escala de produção econômica: Primeiro veio a Era Primitiva, depois veio a Era da Agricultura, a Era Industrial e finalmente a Era do Conhecimento, onde o carro chefe da produção econômica são os intangíveis – que está apenas em seu início e não parece que irá acabar tão cedo, aí a necessidade de se controlar com meios eficazes os intangíveis. O difícil é mensurá-los, é algo muito instável, um dia sua marca pode valer milhões, no outro valer apenas metade. O meio mais eficaz de se medir o valor das idéias tem sido o Goodwill, que pode ser simplesmente a diferença entre o valor de mercado da sua empresa menos o contábil/patrimonial dela, já que o segundo igualar-se-ia ao primeiro apenas há décadas atrás, ainda na Era Industrial.

E onde diabos vejo isso?
Mas o que me instigou a criar este texto, na verdade, foi a Copa do Mundo. Isto mesmo, a Copa do Mundo, o maior espetáculo esportivo do globo. Mas onde ela se depara com os intangíveis? Elementar meu caro Watson. Já parou para pensar quanto vale o verde e amarelo em tempos de copa do mundo (eu sim, 189,90 uma camisa da seleção)? O futebol é uma paixão nacional, as pessoas param de trabalhar para assistir aos jogos, compram o possível para mostrar sua pátria, se alegram, bebem, comem, compram TVs. A FIFA (órgão que controla o futebol) por sua vez, vende por milhões os direitos de exibição dos jogos para as emissoras, estas vendem por milhões o horário de intervalo dos jogos para que empresas mostrem seus comerciais com pessoas vestidas de verde e amarelo, para que assim possam vender mais camisas, bebidas, comidas, TVs e todo o resto. E neste enorme e lucrativo ciclo virtuoso (ou vicioso), vemos uma imensidade de ativos intangíveis sendo produzidos e comercializados.


E o que eu ganho?
Uma consideração interessante é o valor que coisas, que para alguns “espertos empreendedores” são ínfimas, podem receber de grandes multinacionais, por exemplo. Uma delas? Vejamos no caso da copa do mundo, com que seleção você gostaria de ser associada? Com a França, cujo grupo com Argentina, México e África do Sul pode ser considerado difícil, cuja classificação para a copa veio através de um gol com a ajuda da mão de um atacante, cujo técnico é considerado por muitos, fraco e cujos jogadores não são tão habilidosos como safras anteriores? Ou a Espanha que ganhou a Eurocopa e que joga, com jogadores muito habilidosos, um futebol bonito? Tudo isso pode parecer bobo, mas hoje em dia, as análises econômicas precisam considerar muito mais variáveis, além do exigido é preciso exceder, ver o que os concorrentes não vêem. Para se conseguir bons resultados é preciso criatividade, idéias, conhecimento. É preciso intangíveis!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Brasil, Irã – Guerra ao Terror

Se no filme ganhador do Oscar do ano passado, os responsáveis por desarmar explosivos usavam um belo traje protetor para realizar seu árduo trabalho, hoje, fora da ficção, vemos um país desprovido de qualquer armadura tentando realizar a mesma difícil tarefa de neutralizar uma bomba. Uma das grandes.

Lula, nosso presidente, esteve esta semana assinando um acordo junto a Irã e Turquia, compactuando para com uma válvula de escape na questão de nuclearização da nação iraniana. O Irã, para quem não sabe, criou um projeto de enriquecimento de urânio, que acarretou em várias sanções internacionais e a convivência com a constante ameaça de mais delas, tudo por conta do temor internacional de uma bomba atômica.

Através do acordo, Turquia e Brasil tentam limitar as sanções contra Irã, algo que a maioria das potências não concordam. Com razão, o governo do Irã tem um passado sujo demais para ter tal credito e mesmo ele concordando em enviar urânio para ser enriquecido em 20% (longe dos 95% de uma Enola Gay) na Turquia, o país continua com a idéia de nuclearizar também em seu território, dificultando negociações.

Apesar de parecer ter pouco resultado prático a atitude de Lula, o impacto publicitário foi desproporcional. Uma passagem rápida pelas principais News do mundo dá um panorama de quão bem recebido foi o ato do presidente brasileiro: “Muitos disseram que eles iriam falhar. Ao invés disso, os dois anunciaram o triunfo na segunda-feira 17 maio, apertando as mãos com Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano.” diz economist.com, “Estrela do brasileiro Lula brilha com acordo iraniano” anuncia o Associated Press, “A China saudou o plano de troca de combustível nuclear que o Irã anunciou após reunião com o Brasil e a Turquia” diz Reuters.

A crítica positiva, porém, parece ser temporária, como a própria cooperação iraniana. Todavia, pode durar até a vindoura eleição presidencial deste ano, que se Dilma ganhar, será pela pura publicidade do companheiro Lula. Publicidade esta que certamente fora o forte da carreira do presidente, mas não a confunda com forte diplomacia, até porque Luis Inácio perdera a maioria das apostas, foram poucos resultados para muitos apertos de mão.

Posso pecar em dizer, mas acredito, na minha humilde opinião, que Lula agora torce para que haja sanções. Claro! Com as sanções, se Irã construir uma bomba será por causa delas, se não construir, ótimo, o Brasil fez sua parte. Deste ponto de vista, caros, acabo enxergando a intervenção brasileira no Irã como enxergo o premiado filme do título: Apesar de falar sobre fatos reais sérios, não passa de ficção, entretenimento.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Para se pensar!!!

Recebi por e-mail hoje este texto. Gostei, e então resolvi postar aqui...

O texto que segue abaixo foi escrito para uma formatura da FAAP, por Nizan Guanaes, que foi o paraninfo da turma. Olhe só o que este publicitário escreveu! Deve ser por isso que é um dos melhores redatores do mundo e dono da DM9 (aquela que criou os bichinhos da Parmalat).

'Dizem que conselho só se dá a quem pede.
E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho licença para dar alguns.
Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja aqui vão alguns, que julgo valiosos.

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro.
Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor.
Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência.
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha.
Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro.
Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro.
Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.
E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham, porque são incapazes de sonhar.
E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.

Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute.
Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido, tendo consciência de que cada homem foi feito para fazer história.
Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução.
Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar, sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.

Não use Rider, não dê férias a seus pés.
Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: 'eu não disse!', 'eu sabia!'.

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.

Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar.
Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam.
Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.

Eu digo : trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio (que é a morada do demônio) e constrói prodígios.

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito o que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses, que trabalham de sol a sol, construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta.

Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.

Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo (que é mesmo o senhor da razão) vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão.

E isso se chama SUCESSO.'

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Administração Pública e Marasmo

I – Da parte sensata.

Hoje, tive a felicidade de poder ler a Carta do IBRE, carta escrita por economistas da FGV que apresenta dois mitos das contas públicas brasileiras (leia aqui). Um deles é o de que a redução de despesas de expediente poderia diminuir significativamente as despesas públicas. O outro é o de que o responsável, quase totalmente, pelo fraco investimento brasileiro é a pouca aplicação de recursos.

O 1° fora desmentido facilmente ao se apresentar a participação de cada componente nos gastos públicos brasileiros. A participação do Custo Restrito, que engloba os valores de despesas de escritório e viagens, material de consumo e serviços de consultoria, entre 1999 a 2009, caiu de 2,1% do PIB para 1,8%, sendo que, a máquina do governo não funcionaria com menos de 1% investido neste setor.

O 2° e mais emblemático, pode ser considerado em partes real. É verossímil que os gastos correntes (despesas geralmente mensais, vide relatório) vêm engrossando sua fatia no PIB, como também é verossímil o fato de que os recursos gastos em investimentos públicos vêm afinando sua parcela, porém, estas são só duas partes de um quebra-cabeça complicado. Um dos principais agravantes apresentados neste relatório para o problema, para alguns uma surpresa, é a má administração pública, que freia a liberação de verbas e estagna o processo.

II – Da psicose do autor

E mais uma vez chegamos ao mesmo buraco. Cultura. Infelizmente, a inapetência dos trabalhadores públicos é o resultado de uma sociedade que busca esforçar-se o mínimo possível para qualquer ação. A afirmação é cômica, afinal esta sempre foi à maior meta humana: Conseguir o máximo com o mínimo de esforço possível. Claro, nos tempos em que a produção de qualquer coisa era rústica e de extrema dificuldade, nos tempos em que trabalhar (trabalhar mesmo!) era necessário para continuar a viver, esta meta fazia todo sentido. Mas e hoje em dia? Nestes tempos onde tudo é produzido em escala desnecessária para que sejam saciados os bolsos dos “grandes homens” de nossa economia? Nestes tempos onde temos a obrigação de estar no ambiente criado para o trabalho, mas não a obrigação de trabalhar?
O mundo mudou, mas nossa meta não. Estamos em um trem desgovernado, sem freios. Um trem que atingiu a velocidade que necessitava, mas que não para de acelerar. Um trem controlado por maquinistas que já não se importam com os passageiros nem com os trilhos. E o mais triste, um trem cujos passageiros já não sabem ou fingem não saber onde querem desembarcar.

Talvez seja a hora de mudar o rumo deste trem...



Outras Frequências (Engenheiros do Hawaii)

seria mais fácil fazer como todo mundo faz
o caminho mais curto, produto que rende mais
seria mais fácil fazer como todo mundo faz
um tiro certeiro, modelo que vende mais

mas nós dançamos no silêncio
choramos no carnaval
não vemos graça nas gracinhas da TV
morremos de rir no horário eleitoral

seria mais fácil fazer como todo mundo faz
sem sair do sofá, deixar a Ferrari pra trás
seria mais fácil fazer como todo mundo faz
o milésimo gol sentado na mesa de um bar

mas nós vibramos em outra freqüência
sabemos que não é bem assim
se fosse fácil achar o caminho das pedras
tantas pedras no caminho não seria ruim

mas nós vibramos em outra freqüência
sabemos que não é bem assim
se fosse fácil achar o caminho das pedras
tantas pedras no caminho não seria ruim

seria mais fácil fazer como todo mundo faz...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lei Seca por um Legislativo Embriagado

Não é de hoje que nossa legislação ganhou um panorama cômico, nosso passado está repleto de redundâncias e paradoxos legais. A legislação, que deveria ser auxiliar da ética e do bom senso, tenta, inutilmente, colocar em suas páginas toda e qualquer circunstância possível, para que assim, nos amparemos fiel e cegamente no que é regrado e não mais costumeiro. Porém a infindável metamorfose humana torna a sociedade imune às previsões e o que deveria nos ditar a vida torna-se algo ultrapassado e não condizente com a realidade.
Hoje, assistindo o jornal local em meu horário de almoço, deparei-me com uma cena infame, porém, comum. Uma reportagem dizia que um homem visivelmente embriagado, fora levado à delegacia pela polícia, pois estava dirigindo em tais condições. Ao chegar lá, o homem recusou-se a fazer o teste do bafômetro e ainda ofendeu a delegada. Resultado: Foi liberado sem pagar fiança.
Justificativas dos profissionais perante a recusa do exame: O homem tem todo o direito de recusar-se a fazer o teste do bafômetro, pois a Legislação (olha ela aí gente) diz que o indivíduo é livre de fornecer provas contra si mesmo (é mole?). Mas o homem havia ofendido a delegada, isto não seria plausível de punição (ou reabilitação, como os humanistas desvairados preferem)? Não! Pois o homem estava visivelmente embriagado, não era responsável por seus atos! Mas se ele estava visivelmente embriagado, por que não o prenderam ou multaram ou fizeram qualquer coisa por dirigir assim? Simples, não tínhamos provas técnicas e a legislação (hunf!) diz que precisamos ter exatas as quantidades de álcool no sangue do indivíduo para tomarmos atitude. Conclusão: !?
Nisto, a confusa, paradoxal, redundante e inexpressiva lei, torna-se motivo de vergonha e chacota. Antigamente ao menos, precisava-se de bons advogados para encontrar os pontos fracos da cega justiça, hoje em dia, qualquer cidadão (merecedor ou não de tal nomenclatura) leigo em direito positivo burla-a “legalmente”.
A malandragem reina de um lado da lei enquanto a omissão reina do outro. E no meio de tantas qualidades não sobra espaço para o que hoje é virtude rara, mas que deveria ser obrigação: honestidade.

Brasília e a música nacional

Interessantíssima entrevista da UOL com Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial:


"Ser criança em Brasília era estar no paraíso", confessa Dinho Ouro Preto

Dinho Ouro Preto
Especial para o UOL
Brasília faz 50 anos agora em Abril. O Renato Russo faria também 50 em Março. As duas datas são importantíssimas pra mim, e estão interligadas.
Eu morei em Brasília em duas épocas distintas da minha vida: a primeira, dos dez aos treze, e a segunda, dos dezesseis aos vinte. Pode parecer pouco, mas tudo o que eu sou hoje deriva, de uma forma ou de outra, desses anos.
O primeiro período, foi minha transição da infância à adolescência, uma época um tanto confusa pra todos nós. Quando se é criança em Brasília se tem a impressão de estar no paraíso. Passávamos o dia na rua jogando bola e andando de skate. Eu ia a pé pra escola e tinha uma sensação de absoluta tranquilidade e segurança. Medo e violência ainda não faziam parte do meu vocabulário. Na minha inocência, a cidade me parecia um lugar perfeito, sem defeitos, no meio do cerrado e longe de qualquer problema.
 Aos dez, eu conheci o Dado Villalobos, que se tornou meu melhor amigo. Aliás, continua sendo. Aos doze, conheço o Herbert Vianna, o Bi Ribeiro e seu irmão, o Pedro. Até hoje, todos estão entre meus melhores amigos. Através deles, eu comecei a ouvir rock. No começo eu ouvia o que eles ouviam, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, entre outros.
Compro meu primeiro disco: Jimi Hendrix tocando Cream. Lembro da correria às lojas quando o Led Zeppelin lançou o Presence. Lembro de quando o Herbert ganhou sua primeira guitarra importada. Juntou um monte de gente embaixo do bloco porque nunca tínhamos visto uma Gibson.
Aos poucos fui me afastando do gosto deles, e, embora ainda tivéssemos muita afinidade musical, fui me interessando por bandas que, pra eles, eram abomináveis, como AC/DC, Kiss e Queen. Lentamente rock ia se tornando a coisa mais importante da minha vida. Eu achava que quanto mais bandas eu conhecesse, mais bacana eu seria. Eu fazia uma competição com meu irmão pra ver quem conseguia completar o alfabeto inteiro com nomes de bandas. E por incrível que pareça conseguíamos.
Brasília, mesmo sendo a capital do país, ainda era uma cidade do interior, provinciana e isolada. O fato de termos conseguido informações musicais assim em Brasília , muito antes da internet, nos anos setenta, em plena ditadura, foi um feito surpreendente, que só foi alcançado por nos interessarmos por música com um furor religioso.
Aos treze eu passei alguns anos fora do país com meus pais e voltei aos dezesseis. Reencontro meus amigos, e os encho de histórias, dos shows que eu tinha visto, só pra saborear sua inveja.
Logo depois da minha volta, a caminho de casa, absolutamente por acaso, eu dou de cara com uma banda tocando numa calçada em frente a uma lanchonete conhecida por envenenar seus clientes.
Os caras pareciam ter descido de uma nave espacial. Cabelos coloridos, roupas rasgadas, coleiras e alfinetes por todo lado. Eu não conseguia entender uma só palavra do que o sujeito cantava; todos os instrumento e a voz estavam ligados em um só amplificador. Mas não importava, eles transpiravam energia, atitude e carisma. A banda era o Aborto Elétrico com o Renato Russo (naquela época ainda Manfredini) nos vocais, e o Fê e o Flavio Lemos na bateria e baixo respectivamente. A partir desse momento, minha vida nunca mais foi a mesma.

Cidade roqueira

Virou uma questão central nas nossas vidas reencontrarmos aquelas pessoas. Percebemos que a cidade inteira, inclusive nosso bloco, estava pichado com um AE. Começamos a prestar atenção em cartazes colados pelos muros até descobrirmos onde seria o próximo show. Finalmente, após uma exaustiva investigação, descobrimos que a apresentação seria num lugar chamado Cafofo. E lá fomos nós, eu, o Dado e o Pedro...
O Cafofo merecia o nome que tinha, era uma lugar de última. Na verdade era um boteco e o show era no porão. Descemos e nos deparamos com umas doze pessoas, todas vestidas a caráter, uma banda tocando, o Aborto Elétrico assistindo, mas o melhor de tudo: garotas. E ainda por cima roqueiras, aliás punks. O porão era um inferno, mas estávamos no lugar certo na hora certa.
É preciso uma pequena explicação: àquela altura Brasília já tava bastante tediosa pra nós adolescentes com hormônios saindo pelas orelhas. Mas, embora nosso interesse e entusiasmo pelos punks fosse óbvio, ninguém nos dirigia a palavra. Ficou claro que aquilo era um clube exclusivo e, para entrar, sabe lá Deus o teríamos que fazer. No entanto, nossa persistência foi intensa, fomos a todos os shows, não importa onde eram, até que lá pelas tantas, não dava mais pra fingir que não estávamos lá. As primeiras pessoas que tiveram piedade o suficiente pra se digerirem a nós foram as meninas, traição suprema, que deve ter enfurecido o povo das bandas. Eu digo bandas porque eram duas; além do Aborto, havia também o Blitz 64. Por meio das meninas, somos convidados depois do show a ir pra uma "quebrada". Não tínhamos a mais remota idéia do que se tratava, mas como a sorte não passa sempre na sua frente, dissemos que sim, e fingimos que sabíamos do que eles estavam falando.
Quebradas nada mais eram do que lugares isolados, ermos, longe de tudo e de todos, a beira do lago, onde paravam o único carro que tinham e colocavam o som no máximo, acendiam os faróis e baseados; bebia-se Sangue de Boi no gargalo e pronto, a festinha tava armada.
Duas coisas fundamentais aconteceram naquela noite. Primeiro, para minha surpresa o Renato se dirigiu a mim. Ele vira e me pergunta, como se fosse a coisa mais normal do mundo, se eu gostava de ler. Respondi que sim ao que se seguiu com uma conversa sobre Kurt Vonnegut, Salinger, Aldous Huxley e até Camus e Dostoievski. Tive que espremer meu cérebro pra acompanhar a verborragia daquele cara, simultaneamente culto e tímido. A segunda coisa fundamental da noite, foi meu primeiro contato mais intenso e íntimo com o punk rock.
Pode parecer pouco, mas as duas coisas somadas, Renato e o punk, fizeram minha vida tomar um rumo inesperado. À noite, eu não disse nada aos meus pais. Eu preferia que eles pensassem que eu estava planejando algo potencialmente destrutivo e que jamais soubessem que eu tinha passado a noite conversando sobre literatura. Entrei em casa mudo com cara de conspirador, não cumprimentei ninguém, e me tranquei no meu quarto. Dormi profundamente, sonhando com o próximo encontro que prometia uma galáxia de novas possibilidades para minha tediosa existência.
Pouco depois, eu comecei a namorar a irmã do Fê e do Flavio, uma menina linda de morrer que, como eu, ainda ouvia as bandas antigas. Mesmo tendo sido apresentado ao punk, eu achava aquilo tudo muito tosco, e me recusava a ser convertido. Eles eram divertidos e tudo, mas, musicalmente pra mim, aquilo era um desastre. Namorando a Helena, além da sorte grande de namorar a menina mais bonita da turma, ganhei o privilégio de poder frequentar os ensaios do Aborto que eram na casa do Fê.
A partir de então, finalmente eu entendi o que o Renato estava dizendo. E, quando isso aconteceu, parecia que o céu tinha aberto, e um raio de luz iluminado meu rosto, e Deus dito... bom, não sei exatamente o quê, mas algo importante. Finalmente eu ouvi rock brasileiro bem escrito. E, mesmo sem ainda estar convencido do valor do punk, instantaneamente virei fã incondicional do Renato, o que continua inalterado até hoje.
Meu fascínio por sua música me levou a me aproximar dele, e finalmente, um dia, a frequentar sua casa. A Helena, minha namorada, já era amiga dele e, por meio dela, tive acesso ao pequeno circulo de amigos mais próximos.
A casa dele era uma casa comum de classe média, uma mãe e uma irmã simpatissíssimas e o pai que parecia não achar tanta graça naquela gente frrequantando seu lar. O quarto do Renato, objeto de nossa peregrinação, era um autêntico santuário. Rock, cinema e livros. Pilhas e mais pilhas de discos e revistas. Passávamos a tarde inteira ouvindo som, lendo sobre o que as bandas aprontavam, e vendo fotos dos palcos, músicos, suas roupas e suas festas. La Hacienda, CBGB's e 100 Club, todos lugares que pareciam cenários, algo quase irreal, bom demais pra ser verdade. Com fotos dos Ramones festejando, do Sid Vicious fora de si e do Ian Curtis em depressão.
O Renato era um leitor ávido e tinha fascínio especial por biografias, principalmente de rock e cinema. Conhecia cada detalhe da vida de atores e músicos. De Bob Dylan ao Clark Gable, ele sabia de tudo: gosto musical, preferência sexual, prato predileto, roupa favorita, enfim tudo. E sabia de pequenas anedotas, histórias de amor, aventuras extraconjugais, brigas em bares e prisões. Frequentávamos juntos mostras de cinema; víamos a nouvelle vague, os expressionistas alemães, e os clássicos italianos. Acho que nunca mais vivi um momento tão intelectualizado quanto esse, aos dezessete anos.
E tudo isso sem falar em política. Embora o regime militar ainda estivesse oficialmente de pé, a impressão era que ele estava em estado terminal e não seria mais uma ameaça para nós. Então, aterrorizávamos nossos pais saindo para a rua com camisetas com a foice e o martelo (mesmo sem levar Marx muito a sério) só pra nos divertirmos à custa da certeza deles que seríamos presos. Naquele momento líamos Bakunin e, por mais inacreditável que pareça, levávamos a anarquia a sério.
As letras do Renato eram ácidas, corrosivas e de uma provocação deliberada. Ele era chamado regularmente ao ministério da Justiça pra prestar esclarecimentos, coisa que ele nunca fez, e no entanto nunca houve uma reação do regime. Suponho que naquele momento o Figueiredo já estava mais preocupado com seus cavalos. De qualquer modo, nós nos sentíamos profundamente subversivos só de ir aos shows. Aquilo parecia uma afronta aos militares, um ato de coragem que um dia seria lembrado nos livros de história.
A adolescência vem com uma dose de arrogância e ingenuidade. Naquela época, o Renato devia ter uns vinte anos e já tinha escrito “Que Pais é Esse”, “Geração Coca Cola”, “Química”, “Tédio”, “Veraneio Vascaína” e “Fátima” - as últimas duas com o Flavio Lemos. Aos poucos, outras pessoas foram percebendo que não se tratava só de um músico talentoso. A turma começou a aumentar, até que em determinado momento não sabíamos mais o nome de todos. Havia uma hierarquia que era estabelecida por ordem de chegada, portanto, o Renato e o Fê, que tinham fundado o Aborto dando início a tudo, tinham o status de líderes. Outros poucos reivindicam importância equivalente, por inveja ou por rivalidade. Mas pra mim, tudo isso era irrelevante. O Renato, aos meus olhos, pairava acima de todos como um guru indiano levitando.
Acho que essa historinha está ficando meio longa, então vou dar uma resumida. O mote do punk era "faça você mesmo", o que era levado ao pé da letra pelos recém chegados e então bandas pipocaram pra todo lado. Todas com nomes engraçadíssimos, como Dado e o Reino Animal, Os Vigaristas de Istambul e o Anti-Ontem. Se você sacudisse uma árvore, caia um guitarrista.
A medida que mais bandas surgiam, eu tenho a impressão que o Renato começava a achar aquilo tudo um lugar comum. Acho que ele queria ser algo a parte. E principalmente ele queria se fazer ouvir e entender, como se ele soubesse que um dia teria a atenção de uma geração inteira. Então, para minha infelicidade numa bela tarde, sem mais nem menos, houve um dia de luto na turma: o Renato sai do Aborto. Ninguém sabia que aquilo era só o fim do começo e que muito mais viria pela frente. Mas isso tudo é outra história.

Dia da Contabilidade

Parabéns profissionais, estudiosos e simpatizantes da contabilidade!!! Domingo, 25/04 foi o dia do contabilista, profissão de elevada importância na sociedade atual, profissão esta a qual pertenço.

Em homenagem a esta indispensável profissão nada melhor que falar de um pioneiro do assunto, o homem que escreveu seu nome na história da Administração Científica e da Contabilidade através da publicação de “Summa de Arithmetica, Geometrica, Proportioni et Proportionalita”, Frei Luca Pacioli.

Il Paciolo, nascido em San Sepolcro em uma época de ouro da Itália, é um dos maiores nomes da contabilidade, se não o maior. Através de seu livro citado a pouco apresentou para o mundo o método que até hoje é utilizado pelos contabilistas, o ‘método das partidas dobradas’.

Frei Luca, junto a Da Vinci, Botticelli, Maquiavel, Michelangelo e outros gênios tornaram o período renascentista uma das épocas memoráveis da história do homem. Neste tempo cultuava-se a arte profunda, a ciência da arte, seus desdobramentos, seus porquês...

Apesar de Frei Luca Pacioli ser estudioso das ciências exatas, era grande apreciador das artes plásticas, tanto que, escreveu um livro sobre as “Divinas Proporções”. Diz histórias que fora ele que as apresentou ao seu saudoso amigo Leonardo Da Vinci.

Luca Pacioli lecionou em grande parte da Itália, para crianças, universitários, duques... morreu em 1517, deixando um legado de difusão cultural que jamais morrerá.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Qual o papel da imprensa na democracia?

Antes de analisar a proficuidade da imprensa atual, devemos primeiramente identificar o atributo predecessor: O que anseiam os veículos de imprensa? O que é profícuo a eles? A motivação destes não se difere da maioria, este é o problema, da imprensa e da democracia. Ambos tornam-se inúteis se o importante, comum e unicamente importante, é o capital.
O papel da imprensa seria, como disse nosso atual presidente em entrevista a UOL, o “de ser o grande órgão informador da opinião pública” e a imparcialidade neste processo deveria ser abundante, como também afirma Lula: “essa informação pode ser de elogios ao governo, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos”.
Infelizmente, os veículos de imprensa para sobreviver em seu meio de concorrência canibalesca, necessitam de ênfase. A necessidade e a ganância de conseguir lugar de destaque fazem-los recorrer ao extremismo da informação, depreciando o valor intelectual da mensagem e ostentando o emocional, na grande maioria das vezes, negativamente.
Somando a atuação sensacionalista de nossa imprensa com a conduta amoral de nossos líderes: ‘habemus circenses’. A estirpe política inescrupulosa, corrupta e geniosa é prato cheio para multiplicar os “feitos” midiáticos, que a cada dia desvenda mais sujos esquemas de desvio, de conduta ou dinheiro. Mas este boom de revelações tornou-nos céticos, a rotina auferida de sujeiras políticas já é comum e aceita, acomodamo-nos, e o papel da imprensa jaz desnecessário.
Claro que, em meio a imprensa comercial sensacionalista há sempre bons jornalistas e estudiosos do assunto, que anseiam a busca e a disseminação de informação de qualidade, imparcial. São relativamente poucos, mas com a elevação da estrutura social comum, o conhecimento e a curiosidade brasileira tendem a aumentar e a buscar novos caminhos, assim, retirando a atenção do motivacional coagido e voltando-a para o intelectual livre.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A obra-prima Watchmen

"Diário de Rorschach - 12 de outubro de 1985.
Carcaça de um cão morto no beco hoje de manhã com marcas de pneu no ventre rasgado. A cidade tem medo de mim. Eu vi sua verdadeira face. As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e as putas e os políticos vão olhar para cima gritando "salve-nos"... e eu vou olhar para baixo e dizer "não". Eles tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos de homens honrados como meu pai ou o presidente Truman. Homens decentes, que acreditavam no suor do trabalho honesto. Mas seguiram os excrementos de devassos e comunistas sem perceber que a trilha levava a um precipício até ser tarde demais. E não me digam que não tiveram escolha. Agora o mundo todo está na beira do abismo contemplando o inferno e os liberais, intelectuais e sedutores de fala macia... de repente não sabem mais o que dizer."
O texto acima foi retirado do "diário do Rorschach" logo nas primeiras páginas de Watchmen, uma das obras primas de Alan Moore. Denso não? Bom, é este o ritmo de toda a narrativa. Para quem absorve é de se ficar semanas abalado com o conteúdo desta "estória de super-heróis".
Li três vezes Watchmen e em todas elas descobria coisas novas sobre a trama. A HQ tem tantas referências sobre assuntos históricos, filosóficos, políticos e científicos que é impossível em uma leitura superficial digerir completamente a narrativa. "O Conto do Cargueiro Negro" (HQ lida dentro da HQ) é um exemplo. Precisei de duas leituras para entender seu significado.
Toda essa bomba de informações é emaranhada de forma tão espetacular dentro do roteiro que, dispersados, é irracional a relação dos assuntos. Vão de extraterrestres, vigilantes, sociopatas e mutantes nucleares passando por conflitos sociais, mega corporações, tensão pré-guerra até romances e dramas de aposentados. Moore, dentro de uma trama frenética carregada, consegue contar a história de cada personagem central, consegue mostrar-nos o que move cada um e quais seus traumas e desejos. Não é a toa que esta simples história em quadrinhos é referência em leitura, seu desenrolar está à beira da perfeição... "e de repente os críticos das artes seqüenciais como obras intelectuais não sabem mais o que dizer".
Alguns dos diálogos que julgo mais interessantes são entre Rorschach e seu psicanalista. Onde o primeiro fala ao segundo sua visão da sociedade e porque se tornou um vigilante violento. É observável neste colóquio a desconstrução de um ponto de vista, no caso o do psicanalista, que acaba enxergando que a vida não é a maravilha que pensava ser. É com essa visão que saímos ao terminar de ler Watchmen. Deixa-nos um gosto amargo na boca, uma sensação de improfícuo. E, talvez, essa sensação faça com que mudemos nossos conceitos e, como fez o psicanalista, importemo-nos um pouco mais com o mundo.

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Uma leitura essencial e recomendadíssima. Como é custoso, em tempo e dinheiro, para se adquirir o livro. Recomendo o download na net mesmo. A qualidade é boa, principalmente em pdf.

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Recentemente Watchmen foi adaptado para as telonas. Infelizmente o filme não é tão impressionante como a obra escrita, mas também não é ruim. O defeito é que para quem não leu a HQ, é difícil compreender o desenrolar do filme e para quem leu, o filme parece estar incompleto. No entanto, só o fato de ver nossos "heróis" em ação já é de ficar arrepiado (LOL). Rorschach foi muito bem adaptado (a voz é fera - "help us" "no"), mas senti falta da profundidade do psicanalista descrita acima, no filme não tem( =( ).

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Algumas observações e personagens:

Cenário: Passa-se no EUA, principalmente em NY, no período da guerra fria. Porém Nixon ainda é presidente, houve vigilantismo (heróis mascarados), Doutor Manhatam (um acidente nuclear) fez vários avanços tecnológicos, um interessante é o carro elétrico.

Lei Keene: Importantíssima na estória. É a lei que baniu o "vigilantismo" nos EUA depois de uma greve policial. Os únicos ex-vigilantes na ativa são Manhattan e Comediante - autorizados pelo governo - e Rorschach - ilegalmente.

Rorschach: Falei pouco dele né, rs. Rorschach é um vigilante sociopata traumatizado. Sua visão de justiça é aterradora, porém compreensível. O nome Rorschach é por sua mascara que lembra o "teste de Rorschach".

Dr. Manhattan: Uma vítima de um acidente nuclear que adquiriu super-poderes, é o único que tem super-poderes na estória. Tanto poderoso é, que está perdendo seus sentimentos em relação à humanidade. O nome Dr. Manhattan é devido aos testes atômicos que geraram a bomba atômica nominados "Projeto Manhattan".

Ozymandias: Diz-se o homem mais inteligente da terra e capaz de parar uma bala. Um dos pontos centrais da trama. Maquiavélico e calculista. Ozymandias era também o apelido do faraó Ramsés II.

Comediante: Frio, arrogante, sarcástico e realista. Personagem interessante. Lembra o Coringa, mas é um pouco mais prepotente e arrogante.

Bom, o resto é com você. Baixe a HQ e deslumbre esta obra prima!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O sapo, a panela, o terremoto e o Haiti


Diversas vezes assisti o documentário "Uma verdade inconveniente" de Al GoreCada vez que o fazia, possuía novas perspectivas, e acabava por analisar pontos diferentes no filme o que me causava uma metamorfose de opiniões. Em paralelo, a historieta do Sapo na Panela era algo que imutavelmente me chamava à atenção neste filme:

- Um sapo pula dentro de uma panela de água fervendo. Ele pula pra fora imediatamente, pois a súbita mudança de temperatura o causa um choque.
- Mas se o sapo pular na água morna e a água ir esquentando aos poucos, ele não sentirá a mudança, não sairá da água e por fim morrerá.

Notaram a semelhança com o comportamento humano? Nós, a sociedade de prepotentes racionais, quando temos algum choque, uma catástrofe natural ou um atentado terrorista por exemploprontamente buscamos remediar a situação. Tomamos as medidas necessárias até que o problema, enfim, esteja esquecido resolvido. Já se o problema é inserido em doses homeopáticas vamos adaptando-nos a ele, até que não pareça mais um problema, pareça apenas uma dura indiferente irremediável realidade cotidiana.


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O Haiti... a o Haiti, um dia chamado de "a jóia das Antilhas" tanto produtivo que era. Produtivo e usurpado pelos franceses, seus colonizadores, a um ponto que, para se ter uma idéia, 50% do PIB francês da época era provido desta colônia centro-americana. Mas essa mamata um dia teria que acabar. E acabou! Poucos anos após a abolição da escravatura, adquirida com luta, em 1803 finalmente o Haiti declarou-se independente. E declarou também, sem perceber, o suicídio econômico.
Como a grande maioria dos países da época era escravista, o Haiti, sendo temido por ser o primeiro país americano livre da escravatura, foi boicotado comercialmente durante 60 anos, o que rendeu uma grande miséria. Se isso não bastasse, anos depois, a França cobrara uma dívida referente à indenização para com os ex-donos de terras e escravos haitianos. O juro interminável desta dívida que fora paga durante 80 anos drenara ainda mais a ínfima economia do país.

Que o Haiti precisou e ainda precisa de ajuda é de indubitável certeza. Os países que o cercam ao redor do globo, mesmo depois do fim do bloqueio comercial, pouco fizeram para ajudá-lo. O EUA ocupou-o militarmente no início do século XX, única e exclusivamente para defender seus interesses no território. Durante a guerra fria apoiaram um líder conhecido como Papa Doc, o qual com uma feroz e violenta ditadura comandou o Haiti até a década de 70 quando morreu e deixou o governo nas mãos de seu filho, Baby Doc. E dá-lhe mais ditadura e violência.

Com um passado de assassinatos e deposições políticas, finalmente em 2004, com um pedido do interino no governo, Bonifácio Alexandre, o Haiti requisitou a assistência da ONU. Esta, que ainda não havia feito nada em prol do miserável país, enviou uma tropa de 6.700 homens na missão de paz MINUSTAH, comandada pelo Brasil e que perdura até os dias de hoje.


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Retirado de Wikipédia

Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de proporções catastróficas, com magnitude 7.0 na escala de Richter, atingiu o país a aproximadamente 22 quilômetros da capital, Porto Príncipe. Em seguida, foram sentidos na área múltiplos tremores com magnitude em torno de 5.9 graus. O palácio presidencial, várias escolas, hospitais e outras construções ficaram destruídos após o terremoto, estima-se que 80% das construções de Porto Príncipe foram destruídas ou seriamente danificadas. O número de mortos não é conhecido com precisão, embora fontes noticiosas afirmem que pode chegar aos 200 mil, e o número de desabrigados pode chegar aos três milhões. Diversos países disponibilizaram recursos em dinheiro para amenizar o sofrimento do país mais pobre do continente americano.


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Ficou clara a correlação entre os títulos? O terremoto 7.0 que atingiu o Haiti é como a panela com água fervendo que, devido ao choque, faz com que o sapo tenha uma pronta resposta. Já a historia haitiana é como a panela com água que ferve aos poucos e que o sapo não dá a devida importância, acostuma-se com o aumento da temperatura, e por fim, morre.
Neste instante todo o mundo está contemplando o horror haitiano. Sentindo muito pelos milhares de pessoas mortas no sismo.
Bom, se analisarmos, foram milhões as pessoas mortas pela desnutrição, pela miséria e pela violência ao longo da história haitiana. Bem mais que as mortas no terremoto. Se este terremoto foi considerado pela ONU a maior catástrofe natural desde o seu surgimento, o Haiti é uma das maiores catástrofes sociais da história.
A verdade, nua e crua, é que pouco nos lixamos para o Haiti, como pouco nos lixamos para a África, como pouco nos lixamos para qualquer que seja o necessitado sem laços familiares. A lei de talião é da natureza humana. Se pudéssemos escolher entre o mínimo necessário para todos ou o máximo possível para nós mesmos, não hesitaríamos na seleção da segunda alternativa. Se a ajuda que está chegando agora dos países ricos para a reconstrução do país houvesse vindo a anos atrás, talvez o Haiti nem precisaria mais de ajuda. Mas não o fizeram antes porque não enxergavam algo “tão pequeno” quanto a miséria da população, não o fizeram por preguiça.
O sapo aos poucos pula fora da panela com água fervendo do terremoto no Haiti. Mas infelizmente está dormindo em uma panela com uma água que apenas esquenta a cada dia, uma panela bem maior e mais perigosa que a do terremoto, a panela chamada egoísmo.






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Último discurso de doutora Zilda Anrs, uma das poucas que realmente se importavam com o próximo.




referências:



Uma verdade inconvenienteAn Inconvenient Truth , EUA2006 - 100 min - Documentário


Pesquisas sobre Haiti: Wikipédia e Blog Mirian Leitão


Lei de Talião - "Olho por olho, dente por dente"



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Faíscas entre EUA e China

O artigo abaixo refere-se a inevitável disputa política-econômica EUA x China. Ocupando as posições das duas mais prósperas economias mundiais, o poder destes países é grande em demasia para uma colaboração aprofundada entre ambos. As medidas para a aceleração de crescimento de uma diretamente afeta o crescimento da outra.
Até provar-se o contrário, a rivalidade entre estes dois gigantes é uma ótima oportunidade para o Brasil. Rivalidade é sinônimo de concorrência, e para um fornecedor é sempre bom uma maior cartela de grandes clientes. (veja aqui opinião do parceiro ECAPO sobre o paradigma).

Segue artigo:
Retirado de BusinessWeek

Os laços entre EUA e China provavelmente vão se deteriorar este ano com o aumento das tensões comerciais entre os dois países, o que representa o maior risco geopolítico deste ano, de acordo com um relatório elaborado por um grupo de consultoria de risco político. “Apesar de o fato de que tanto o presidente Obama e o presidente Hu Jintao na China desejarem ter um bom relacionamento, os indicadores subliminares são de que essa relação está se dirigindo para águas mais perigosas”, disse David Gordon, diretor de pesquisa do Eurasia Group de Nova York e ex-chefe de planejamento de políticas do Departamento de Estado no governo do presidente George W. Bush, em uma entrevista para o canal de televisão Bloomberg. Com eleições para o Congresso em novembro e continuidade da elevada taxa de desemprego nos EUA, a política da China de atrelar o yuan ao dólar ficou sob críticas crescentes, disse Gordon. “Desde que você tem um crescimento de 10% na China e 10% de desemprego nos Estados Unidos e eleições chegando em médio prazo, isso é um mau presságio para as relações EUA-China”, disse. Outros grandes riscos globais em 2010 incluem um regime cada vez mais instável no Irã e divergências políticas fiscais na Europa, disse o grupo em relatório.